A sustentabilidade é (ou, pelo menos, deveria ser), uma preocupação de governos, empresas e pessoas. Mas, enquanto alguns tentam, há quem realmente consiga. Valência, por exemplo, já é famosa como uma das cidades mais ensolaradas da Espanha, graças à localização privilegiada no Mediterrâneo. Agora, também pode se proclamar a mais sustentável, após ganhar o cobiçado título de Capital Verde da Europa.
A princípio, o título é concedido anualmente a uma cidade europeia que estabelece um exemplo ambiental para outras seguirem. Como resultado, a vencedora leva um prêmio de 600.000 euros para financiar programas mais sustentáveis. Mas, imagine o marketing positivo que a cidade leva!
Segundo reportagem da CNN, vários motivos fizeram com que a bela cidade espanhola conquistasse o último. A Comissão Europeia citou, entre eles, os 5 milhões de metros quadrados de espaços verdes. De acordo com o Relatório da Comissão, 97% dos residentes vivem a menos de 300 metros de uma grande área verde. Você pode até não acreditar, mas isso faz uma diferença enorme na qualidade de vida.
Parque Natural de Turia
Um dos pontos que favoreceram o título de Capital Verde da Europa foi o Parque Natural de Turia. Depois da grande enchente de 1957, o rio que corta o parque precisou ser redirecionado. Com isso, o Turia parecia fadado a se tornar uma rodovia de várias pistas.
No entanto, própria população se opôs, exigindo mais espaço verde no centro da cidade. Os esforços, a propósito, deram certo e, hoje, os valencianos contam com um precioso espaço comunitário.
A extensa faixa verde que conecta os pomares de frutas ao Mar Mediterrâneo recebe, aos fins de semana, jogos de futebol, rugby e beisebol em suas muitas instalações esportivas. Além disso, famílias fazem piquenique sob bosques de árvores de baobá e cipreste.
Enquanto isso, atletas amadores testam suas habilidades escalando ou descendo algumas das pontes de pedra medievais que ainda atravessam o parque. O Turia também é lar da Cidade das Artes e Ciências, obra-prima futurista de Santiago Calatrava.
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Transporte sustentável na Capital Verde da Europa
Mas, o Turia também funciona como uma rodovia de transporte sustentável. Isso se dá pelo projeto de caminhos cruzando toda sua extensão. Dessa forma, possibilita que pessoas de bicicleta ou scooters elétricas passem por ele, em vez de cortarem a cidade. Consequentemente, descongestionam o tráfego de rua.
Falando nas bikes, a cidade plana favorece o ciclismo, sem falar no clima perfeito do Mediterrâneo. Ah, e lembre-se, estamos falando de uma cidade realmente arborizada! Portanto, uma das estratégias de proteger o espaço público foi aumentar as ciclovias em mais de 50%.
Com isso, as pessoas, hoje, contam com cerca de 200 km de ciclovias conectando as rotas verdes para fora da cidade. E, se não têm sua bicicleta própria, podem usar as públicas. Logo, além de uma região mais verde, há mais áreas para pedestres e menos poluição.
Entretanto, o planejamento não para aí. O governo local também investiu na expansão de uma nova linha de metrô. Ademais, durante a pandemia, Valência converteu áreas de alto tráfego em zonas exclusivas para pedestres. Por exemplo, a rotatória central da cidade, onde fica o Ayuntamiento, ou a prefeitura , em um impressionante edifício do século XVIII.
Abundância de frutas
Outro benefício de todo esse verde é a abundância de frutas e vegetais da Capital Verde da Europa. A cidade é cercada por La Huerta, mais de 120 km2 de pomares e hortas cujos produtos são vendidos nos mercados municipais de Valência.
Aliás, a Comissão Europeia destacou o programa, pois promove o movimento de Alimentos de Quilômetro Zero. Este, por sua vez, defende o cultivo e processamento de alimentos no mesmo local onde são vendidos e consumidos. Consequentemente, reduz os custos de transporte e emissões de carbono.
O Mercado Central de Valência, por exemplo, é um bom lugar para ver isso em ação. São quase 300 vendedores que comercializam seus produtos em um enorme salão modernista. Prova da eficiência é que cerca de 80% dos clientes são residentes locais, segundo a administração.
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Ainda há desafios para a Capital Verde da Europa
Mas, Valência ainda precisa superar alguns desafios ambientais, sobretudo, políticos. Inicialmente, a proposta em andamento começou na administração anterior da cidade. Porém, as eleições de 2023 levaram ao poder uma coalizão que nega a existência das mudanças climáticas.
Algo que preocupa as lideranças ambientais, segundo as quais, muitos projetos inclusive pararam. Mas, a administração política atual afirma que a preocupação com a sustentabilidade continua, apenas em caminhos e políticas públicas diferentes.
Entretanto, só para ilustrar a tensão existente hoje, há um enfrentamento quanto à expansão do porto e terminal de cruzeiros de Valência. A princípio, há uma proposta em avaliação que, segundo consta, traria dezenas de milhares de turistas por ano.
Ademais, a administração atual também explora a possibilidade de adicionar novos voos diretos de outros países para o Aeroporto Internacional de Valência. Na contramão deste movimento, cidades como Barcelona e Veneza, tentam medidas para lidar com o grande número de viajantes.
Sendo assim, mesmo quem trabalha com turismo se preocupa com os níveis insustentáveis do turismo em massa. O contraponto vem, novamente, dos atuais líderes políticos.
Ainda conforme a reportagem da CNN, Paola Llobet, conselheira de turismo e inovação da cidade, propõe o uso da tecnologia. A princípio, há um projeto para produzir “mapas de calor” da cidade. Tanto turistas quanto guias, teoricamente, podem usá-los para ver quais áreas estão mais congestionadas. Com isso, poderiam sugerir rotas alternativas e incentivar a visita a outros locais na cidade.
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Tradições mais sustentáveis
Durante a primavera, a cidade recebe as tradicionais Fallas de Valência, quando milhares de pessoas enchem as ruas para uma sucessão de desfiles e fogos de artifício. Além disso, estátuas gigantes e coloridas são exibidas por toda a cidade, e depois, incendiadas no auge do festival.
Consequentemente, há plumas de fumaça preta provenientes da queima de poliestireno e produtos à base de petróleo. Um mega desafio ambiental, né? Mas, em honra ao status de Capital Verde da Europa, Valência celebra, em 2024, suas primeiras “Fallas Verdes”.
Para isso, financia construções com alternativas ambientalmente amigáveis, como papel machê, madeira e talos de arroz. O objetivo é seguir nessa proposta até 2030.
Ainda assim, existem elementos da festa que seguem poluindo o meio ambiente. Por exemplo, a “mascletà”, exibição diária de fogos de artifício durante os primeiros 19 dias do festival. Ou seja, mais fumaça.
Logo, a própria administração admite ser difícil tornar as Fallas um evento verdadeiramente verde, mas se esforça para torná-lo uma tradição mais sustentável.
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